domingo, 22 de dezembro de 2019

Boas Festas

Um poema, já antigo, para meditar no consumismo do Natal.


Dia de Natal

(António Gedeão)



Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,

de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exata em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilowatts,
as belas coisas inúteis de
plástico, metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse diretamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.


A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.

Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.

E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento

e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprar.



Mas a maior felicidade é a da gente pequena.

Naquela véspera santa

a sua comoção é tanta, tanta, tanta,

que nem dorme serena.



Cada menino

abre um olhinho

na noite incerta

para ver se a aurora

já está desperta.

De manhãzinha,

salta da cama,

corre à cozinha

mesmo em pijama.



Ah!!!!!!!!!!   

Na branda macieza

da matutina luz

aguarda-o a surpresa

do Menino Jesus.



Jesus

o doce Jesus,

o mesmo que nasceu na manjedoura,

veio pôr no sapatinho

do Pedrinho

uma metralhadora.



Que alegria

reinou naquela casa em todo o santo dia!

O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,

fuzilava tudo com devastadoras rajadas

e obrigava as criadas

a caírem no chão como se fossem mortas:

Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!

E fazia-as erguer para de novo matá-las.

E até mesmo a mamã e o sisudo papá

fingiam

que caíam

crivados de balas.



Dia de Confraternização Universal,

Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,

de Sonhos e Venturas.

Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.

Glória a Deus nas Alturas.

É dia de Natal 

Bons filmes e leituras!


segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

DIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
10 de dezembro

A 10 de dezembro de 1948 era publicada a Declaração Universal dos Direitos do Homem. O Mundo saía de uma guerra atroz e os signatários desta declaração, cerca de 50 países, comprometiam-se a lutar pela paz, igualdade,... 
71 anos passados: o que há para fazer?



Trinta direitos… cada "bonequinho" segura um desses direitos: e assim temos a nossa MARCHA PELOS DIREITOS HUMANOS







Obrigada a todos os que possibilitaram esta "marcha" sobretudo à "estilista" D. Aida Carreira  que vestiu os nossos manifestantes representando culturas, religiões, etnias, ... diferentes mas iguais (assim se pretende) em direitos!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Dia Internacional da Pessoa com Deficiência
À Conversa com... Lurdes Breda.

Esta quarta feira, dia 4, a Biblioteca Escolar da EBS de Guia teve a honra de receber uma "pessoa diferente". Uma iniciativa do grupo de E. Especial para assinalar o dia em que o objetivo principal é "a motivação para uma maior compreensão dos assuntos relativos à deficiência, e a mobilização para a defesa da dignidade, dos direitos e do bem-estar, para que se crie um mundo mais inclusivo e equitativo para as pessoas com deficiência, seja ela física ou mental." segundo a ONU que instituiu este dia desde 1992.





Lurdes Breda nasceu no concelho de Montemor-o-Velho com uma deficiência física há mais de 40 anos. A deficiência não a impediu de ter uma infância com muitos amigos e brincadeiras partilhadas e, quando tal, adaptadas às suas limitações. Respira boa disposição a qual partilha com todos aqueles que a rodeiam... Mostrou-nos que a deficiência é só uma pequena dificuldade; que as coisas boas que pode usufruir são muito mais do que aquelas que não estão ao seu alcance. E afinal todos nós concretizamos os nossos desejos?
Pede ajuda quando necessita; dá ajuda a todos os que a solicitam, à sua maneira. Acedeu ao convite da professora Cristina e esteve entre nós uma manhã falando na sua vida e nos seus livros.
Obrigada Lurdes, pela sua "garra", simpatia e "lição de estar". Sucessos!

domingo, 1 de dezembro de 2019

1º de dezembro 
RESTAURAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA

Para quem gosta de romance histórico… uma leitura a propósito:


"O Dia dos Milagres é uma viagem apaixonante aos últimos dias do regime filipino que haveria de baquear no golpe de Estado que iniciaria a dinastia de Bragança.
O autor centra a acção em Vila Viçosa, onde viviam os Duques de Bragança, e conduz-nos pelos dias de ansiedade, dias terríveis, vividos entre crenças e superstições, marcado por revoltas e sofrimento, num Portugal pobre e cansado, traumatizado pela tragédia de Alcácer Quibir, de onde espera que chegue o Rei Sebastião.
O Dia 1 de Dezembro de 1640 foi um momento único da História de Portugal. Uma data que foi desprezada, até deixou de ser feriado, decisão que enxovalha a memória portuguesa. Um punhado de fidalgos, apoiado pelo Povo de Lisboa, enfrentou o mais poderoso Império do mundo. E devolveu a dignidade a Portugal. São os preparativos dessa saga extraordinária que percorrem as páginas deste romance apaixonante, terno, para que a memória coletiva não esqueça, aquilo que os novos servos do nosso tempo esqueceram, julgando Portugal do tamanho de um mero livro de contabilidade."
in: https://www.wook.pt/livro/o-dia-dos-milagres-francisco-moita-flores/16481907